Olá,
Sou Assistente Social, mãe de dois filhos lindos (foto), tem um esposo, muito amigo e companheiro e tenho sido muito feliz.
Todos os dias quando me levanto me pergunto: por que escolhi esta profissão?
Ela permanentemente está presente no meu cotidiano. Quando vou ao Parque da Redenção, num domingo de sol, cheio de gente, me sinto feliz, mas aí… O meu outro eu – Assistente Social – chega e diz: “olha ali aquela criança descalça neste frio, cheirando loló. Olha mais adiante aquele homem dormindo ao relento”. Olho, então, ao redor para ver se tem mais alguém preocupado com as cenas que o cotidiano nos esfrega na cara. Mas fico surpresa, ninguém nota!
Me dou conta de que esta realidade, além de ser banalizada, é evitada pela consciência de quem não quer ver. É um mundo que existe de forma invisível, para que o nosso “mundo real” possa existir sem culpa…
Ah! Me esqueci… Por que sou Assistente Social?
Todos os dias, o cotidiano me responde porque sou Assistente Social. Porque, nos dias de semana, voltando à noite da Universidade, olhos atentos na estrada, me deparo com cenas, ao longo do caminho, a observar o mundo invisível que ninguém vê: adolescentes cheirando, se injetando, se prostituindo, numa ciranda, novamente, de omissão e de descaso. Eles somente serão notados quando ameaçarem “os homens de bem”, mas – aí é que está – não para a busca coletiva de um processo que os inclua na sociedade. Pelo contrário. Será para se discutir – isso sim – quantas cadeias mais teremos que construir, dando espaço direto à insensatez social e ao descompromisso com a infância e com a adolescência, responsabilizando-se, assim, a pobreza e o número de filhos pela violência cotidiana.
Sempre são eles, nunca somos nós. Nunca se analisa a sociedade capitalista em que vivemos e a sua forma perversa de exclusão.
Por que sou Assistente Social?
Estou sempre atenta a este mundo que passa desapercebido. Quando ouço rádio ou vejo televisão, fico discutindo com as notícias.
Como pode o âncora do jornal da noite ter uma visão tão estreita da realidade, quando trata o Movimento dos Sem Terra como um movimento de bandidos? Qualquer argumentação contrária leva a pexa do discurso antigo.
Discurso antigo é o deles! Porta-vozes de quem oprime…
Por que sou Assistente Social?
Porque olho o mundo invisível dos sem direitos. Dos famintos, dos doentes, dos sem educação, dos desesperançados, dos espoliados, dos excluídos. Porque sei que os donos do capital têm seus instrumentos – leia-se, aí, a Grande Mídia – para manterem a desinformação, a opressão e os privilégios.
E os oprimidos?! O que têm?!
Por que sou Assistente Social?!
Porque sou indignada com a injustiça, porque direitos, para mim, só têm significado com garantia. Porque esta escolha profissional veio me possibilitar, ao longo de minha vida, estar na luta permanente, na defesa intransigente dos direitos humanos e na busca de uma sociedade mais justa…